sábado, 6 de outubro de 2012

Autobiografia



Sentia-se perto do céu
como poderei dizer?
Havia uma luz que a cegava
e um sentimento intenso
que nela se frutificava.

Ao longe estava a porta 
que ninguém conseguia abrir.

De olhos perdidos no vazio
quase clandestinos
sentiu a dor da terra
que a vira nascer.
Os lábios húmidos tremiam-lhe
enquanto nas palmas das mãos
árvores da vida começavam a crescer.

As portas secretas 
abriram-se inesperadamente
num convite implícito
De regresso às origens.

E foi assim que começou a escrever.

No repouso silábico
da sua existência calma
incansavelmente escrevia a alma
calada.

Aves pousaram-lhe entre os dedos
freneticamente febris
dos poros inflamados do tempo
em que viveu 
silenciada.

(eu)

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