sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Na Liberdade da Poesia

                       foto: -alfred cheney johnston.

Silenciada 
de boca colada
uma voz muda percorre-me
os dedos febris em delírio.

Embriagados pelo absinto
que tomei 
desse corpo que me é rei,
sangram sobre o poema
e escrevem-no com a tinta 
desse orgão palpitante.

Hoje estou trémula,
alucinada nestas letras 
que me correm em rio 
oprimido pelas margens
impostas pelas minhas próprias mãos 
cegas!
As mesmas que me vendam os olhos
e não me permitem desnudar os versos.

O Poema quer-se nu e livre!

E perdida neste atalho
numa cegueira constante de mim
aperto-te convulsivamente
numa nudez de pura inocência
e guardo-te na mudez
desta nua, e tão minha 
(in)existência.

(eu)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

No Dia em que o Mundo ia Acabar



É fácil... muito fácil
sentir à noite a finitude
dos dias claros.

Principalmente 
daqueles sem sombras, 
que em nada deixam prever
a proximidade de um derradeiro dia. 

É muito fácil
predizer o fim do mundo,
quando se nos afiguram 
constantemente 
rostos cinzelados de lábios pálidos
a anunciarem incessantemente 
o óbito.

Todas as flores morreriam de espanto
se se soubessem a ornamentar 
as mais luxuosas cerimónias fúnebres.

Elas nunca iriam compreender:
a sua beleza em jardins floridos,
nem a sua enigmática presença
nos rituais valetudinários da morte.

Nada é mais mórbido
que um cemitério ornamentado de rosas
ceifadas à vida,
ou uma missa a encomendar a alma 
de um corpo ainda presente
já sem lágrimas para chorar.

Mesmo que esse dia, 
fosse aquele dia
em que se predissesse, 

Que o mundo até pudesse
nesse mesmo dia 
vir a acabar. 

(eu)

sábado, 15 de dezembro de 2012

Versos Congelados




Os meus olhos estão cegos
e já não seguem passos

os meus pés estão dormentes
nus e descalços.

Já não ouço vozes nem dou beijos,
nem sinto abraços nem desejos,
desprezo ironias e sorrisos falsos.

Já nem tu me podes dar abrigo,
eu sou o relento, a chuva e o perigo,
sou a tempestade e a intempérie. 

Ou as lágrimas no rosto do mendigo.

Amei miragens, debrucei-me nos abismos
desnudei-me nos versos e nas palavras
depois cobri-me de silêncios invisíveis.

Para quê gritar sons inaudíveis?
Na eloquência do sangue derramado
o mesmo que ficou congelado
nestes versos crus e insensíveis.

(eu)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Nesse Leito onde me Eternizo





Dir-se-ia até
que dentro de mim
há uma flor que renasce
em cada silaba
do poema cravado
na minha pele.

As palavras agarram-se
e tomam mais ou menos
a forma doce e inocente
de uma boca pálida
ainda por beijar. 

Ouvem-se melodias 
cantadas 
em notas musicais
que afloram fantasias
inaladas
e espiritualizadas 
como deuses inventados 
no Olimpo.

É assim que quero ficar
eternizada no tempo.

Sobre um leito de rosas 
Em que docemente me deito 
deleito e sinto.

(eu)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Um Sonho Consumado



Peço-te meu amor:
Nunca deixes que a penumbra 
me ofusque o olhar,
nem que os teus beijos 
me adormeçam os sentidos.
Cobre o meu corpo despido
com o orvalho
das madrugadas em que a lua 
se derramou sobre nós.

E só nesse momento,
eu estarei em condições 
de poder dizer-te:
longos foram os dias 
em que ambicionámos o sol
e parimos estrelas em lençóis de linho.
Desfolhámos nossos ventres 
em partos doridos 
e das penas das nossas asas 
construímos um ninho.

Hoje sinto o en-tarde-ser
da aurora 
e das mãos deixo escapar
Tantos sonhos 
que não tive coragem de sonhar.

A teu lado adormeço lentamente
e deixo-me levar nas águas do rio
que te trouxe até mim.

Doce esta inocência 
do sonho em que vivi.

Por ti esperarei sempre,
até à floração da Primavera.

(eu)