sábado, 30 de junho de 2012

Em Imponderável Profundidade



Na profundidade da minha boca
Habitam ecos

Na profundidade do meu corpo
Habitam sentimentos 
Mais ou menos parecidos com afectos.

É na profundidade de todas as coisas 
Que se tiram as formulas mais simples:

A da velocidade da luz a postergar 
O vácuo imponderável do infinito
E aquela com que ponderas na tua mente 
A cor do espectro reflectido nos meus olhos.

É assim que te quero:
Imponderavelmente profundo!

(eu)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O Último Poema



São tão somente dois olhos
Equidistantes dessa linha que teima
Atravessar-me o pensamento:
[Este poderia ser aquele momento
Em que me surgisse o último poema].

Ergo o verbo bem alto em minhas mãos,
Nelas seguro teu olhar ainda por descrever
Um nó aperta-me a garganta na ânsia 
De te sentir ultrapassar o horizonte de eventos
Destas pupilas negras que te querem sugar a alma.

Queria eu no meu último poema
Dizer-te quão incólume permanece este amor
Onde desenhaste jardins aromatizados de flores.
Dizer-te que minhas pupilas se dilatavam
Num convite implícito para decifrares o código
Das conchas e das quilhas que permaneceram
Em cada recuo das marés altas cheias de vida.

Tiveste medo! 
Não quiseste sentir-te absorver 
Cada vez que quis guardar-te 
No homizio da minha existência.

E porque se aproxima o fenecimento do verbo
Deixo-te o código de duas estrelas 
Outrora habitando o infinito 
Em expansão constante:
Olha para estes olhos que clamam por ti
E conseguirás decifrar o enigma do amor.
Aí sim! 
Terás a certeza da infinitude de todas as coisas.

(eu)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Momentos



Há um momento
Um só momento 
Único e preciso
Em que ouço 
Um dissimulado gemido
A percorrer-me os dedos

Agiganta-se na crueldade
Das palavras fugidias de sol
Disfarçadas na languidez
De um corpo atormentado 

Nada é pior que esta imperturbável
Forma de sentir:

Irrequieta e completamente condicionada
Às letras que me caem das mãos.

(eu)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A Magia das Dunas



Fustigadas pelo vento 
As ondas empurram as dunas
Tão frágeis no cimo do areal.

Os corpos vestem-se de brisa
E os poros abrem-se como flores 
Beijadas p'lo orvalho matutino.

É assim que te tomo em cada dia
Mar galgando meu corpo de areia fina
Sufragada e entranhada p'las águas
Das marés prenhes de vida.

Os restos são: 
Conchas, búzios
E carenas adormecidas.
Enquanto o sol desce para poente
Morrendo dolentemente
Das manhãs a que deu vida.

(eu)

sábado, 23 de junho de 2012

A Inominável



O seu olhar fixa-se no horizonte:
Caminha tão lentamente 
- Como se não tivesse pressa de chegar -
Carrega nos braços o berço do mundo
E nas mãos traz o código do universo.

Nada pede, nada pergunta, tudo dá.
Em todos os mundos que habita
- Como ave navegando na luz das estrelas -
Vai enchendo o ventre arredondado
Com fractais da sua própria existência.

Espelha-se para além do especto da luz:
Seus olhos são enigmaticamente quânticos
Enquanto seus lábios beijam 
Vários mundos paralelos pairando no infinito.
Sentada na estrela mais alta irradia luz:
Aquela que ilumina a consciência humana.

Seu nome é....


(eu)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Despertando



Sou levada a pensar:
Como tudo é tão pouco!
Como tudo é tão vago e irrisório:
O corpo, a pele, os odores 
E até os amores.
Tudo é apenas uma questão de escala.

Olho para o Universo
Viro-o do avesso 
E que vejo eu?
Uma visão ampliada e deformada 
De uma sinápse entre dois neurónios.
Será isto o ciclo evolutivo da vida humana
Direccionado à perfeição?

Já exausto meu pensamento
Faz-me sentir em tormento 
O imaginar a perfeição 
Filha da imperfeição.
Não!
Só mesmo o amor 
Possui essa força evolutiva
Reequilibradora da união mística
E da docilidade 
De dois corpos adormecidos
Flutuando nas águas de um rio.

E assim tomo consciência de mim!

(eu)

terça-feira, 19 de junho de 2012

Permanencia



Seguro-te dentro de mim
Como cântico embargado pela voz 
Na urgência de te sentir meu.

Permaneces luz inviolada 
Em cada amanhecer. 
E dizes-te sol 
Atrás das montanhas 
Sempre a leste do meu pensamento 
Enquanto meus olhos percorrem 
O rumo das aves que voam para norte.

Peço-te: 
Não me confundas a mente!
Deixa-me seguir passo a passo 
De pés livres as tuas pegadas.
Com a alma exilada percorrerei o mundo 
Atrás do sangue que deixei espalhado
Pelas sementes colhidas do meu corpo.

Não tentes dissuadir-me!
Afinal foste tu que delineaste o caminho!

(eu)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Insónia



No preciso momento
Em que te absorvo na minha insónia
Sinto-te percorrer as avenidas do sono
E vens ao meu encontro
Tal como te quero:
[Irrequieto e imperturbável]

Trazes nas mãos os frutos do desejo
E na boca a língua com o sabor do beijo.

Passas a habitar o meu corpo
Quedado, em cada madrugada silenciosa.
Contigo esqueço-me da insónia
Afinal é assim que te me quero dar
Acordada e desperta.

Quem disse que há noites sem luar?

(eu)

domingo, 17 de junho de 2012

Doce Loucura



Do ponto mais alto da minha essência
Olho pr'a fragilidade da minha existência
E recuso-me a aceitar que a solidão
É a forma mais nobre de enlouquecer.

Tento ainda dissuadir da ilusão 
Estas mãos frágeis que tentam
Agarrar de uma só vez o voo das aves
Fazendo alusão a poemas por escrever.

Então, envolvo-me no sonho, 
Dissecando todos os aromas da vida, 
Absorvendo o perfume das flores
E segurando em cada mão os frutos
Dissertados de um ventre qualquer
Em sonhos de mulher grávida
Dos ventos que assolam as dunas
Sempre que o mar entra por terra adentro.

Aí sim, eu quero enlouquecer! 


(eu)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Inefável



Sobram-me os sonhos
Insuportavelmente guardados
Do tempo em que as estrelas
Se acendiam no céu
Em cada beijo que me davas.

Mariposas circundavam nosso amor
Em asas coloridas e perfumadas com o odor
Dos nossos corpos mergulhados 
E enraizados em terra acabada de regar.

Néscios desejos percorriam-nos a pele
Meticulosamente ajustada e livre, 
Tão livre que se cobria liquefeita
Da substância incolor transbordante
Dos poros que se inflamavam. 

E por aí adiante, caminhando
Em indelével paixão
Segurávamos nas mãos 
O Lúmen das estrelas 
E ousávamos desafiar a eternidade

O Amor será sempre inefável!


(eu)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Cansaço



Doem-me os pés 
De tanto caminhar,
Tenho sede!
E os ossos gemem de suportar
A carga do meu corpo.

Queria tanto poder repousar
Neste entardecer.
Olhar o poente e pensar
Num outro lugar onde pudesse
Sentir-me renascer.

Bebo do suor da minha pele
Bebo das lágrimas que me caem 
Sobre os lábios.
Choro no deserto aberto 
Deste meu peito
Onde já nem sobram despojos
Do que outrora sonhei conhecer.

Solitariamente confusa 
De alma louca,
Ou Talvez oca
Ou prestes a enlouquecer,
Continuo a insistir
Sem desistir do meu sofrer.


(eu)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Quando Menos te Espero




E assim ousas revelar-te
No calor endógeno da minha pele
Sempre que sem tir-te nem guar-te
Insistes em dizer-te meu.
E dizes-te Sol... 
E dizes-te ave... 
Sobrevoando meu corpo 
Incompleto pela ausência do teu.
Iluminas-me a boca entreaberta
Respirando cansada 
O desejo do beijo que tarda 
Na amplitude do tempo 
Em que te espero e desespero. 
Finalmente em voo rasteiro 
Sinto roçares-me o ventre
Descoberto mas ainda quente
Como terra húmida exalando aromas
Pronta a receber semente.
Docemente arrepiada ouso
Sentir-te meu.
Somente meu! meu amor...
Absorvo-te porque vives em mim.

(eu)

domingo, 10 de junho de 2012

Ser Poeta



O corpo rejubilava com ternura
Os olhos estavam húmidos
E deitavam laivos que sabiam (a)mar
O olhar era oblíquo 
E na concavidade do rosto
Sobressaía uma boca redonda
Cheia... muito cheia de sons audíveis
À distância de vários mundos paralelos.
No peito, ao centro havia um escrito
Dos lados erguiam-se duas mãos
Segurando o mundo entre os dois polegares.

Senti uma onda gigante
Perpassar-me a mente,
Ainda ausente, fixei-me naqueles olhos d'água
E senti no peito a possibilidade
Da imortalidade do Universo!

(eu)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Testemunho



Houve quem a desejasse
Sentisse e até amasse
Outros nem tanto...
Mesmo assim se fez flor.

Houve até quem a visse 
Através da transparência 
Da sua sensibilidade,
Quem sentisse o seu aroma
E distraidamente ignorasse
Quando este cessou.

O seu caule tombou
E na terra que lhe deu vida
Deixou plantada a sua luz .

Em sementes, talvez...
Mas sobretudo no caminho
Que delineou mas nunca percorreu

A coragem, leva-a nos olhos
E na boca semi- cerrada
As palavras que nunca pronunciou.
Tomba a flor
Permanece o Amor!

(eu)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Outros Mundos



Ontem surgiste-me Morfeu
E no sortilégio do sonho
Cruzámo-nos no horizonte
À distância do ponto 
Em que duas linhas paralelas
Se tocam na perspectiva
Dos nossos olhos.

No ventre acolhi teus frutos
E na pele o cheiro do sonho
Em que meus olhos te viram 
Fecundar a minha carne.

E voltámos a cruzar-nos.
Uniste-te a mim em um outro ponto 
Do Universo, onde as estrelas
Párem de dor
Os filhos que concebem 
Do Astro Maior.

Hipno chamou-te!
Ainda consegui ver-te voar
Por entre galáxias,
Meus olhos seguiram-te
Enquanto minhas mãos 
Acariciavam o ventre repleto
Dos filhos do sonho.

Acordei nua de mim!

(eu)

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Silênco




Caminhava despido
Despojado das vestes
Mas coberto pela imortalidade
Do silêncio .

Silenciosamente seu rosto 
Entrava-me pelos olhos
Como se quisesse pertencer-me
Invadindo-me a alma.
Sombriamente 
Continuou o seu caminho
Desaparecendo na multidão.

Por vezes sinto a sua próximidade.
Arrepio-me e peço-lhe:
Toca-me uma só vez,
Depois , só depois...
Poderei pedir-te perdão.

Antes do silêncio 
Da mortalidade da minha voz! 

(eu)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Assim se Disse



O coração transbordava d'amor
Da boca saiam-lhe palavras 
Em forma de beijo.

Sentia-se um calor gigantesco
Brotando-lhe da pele
Era o lúmen da sua existência.

O único ponto de contacto
Entre o céu e a terra... 

Mais forte que a luz!

(eu)

domingo, 3 de junho de 2012

Permissão




Novamente insistes
Em fazer-me acreditar no azul do céu
Na urgência em permitir-me ser:
Mulher amada, solta, envolta 
Na tepidez certa mas deserta 
Dos espaços inventados e sonhados
Por mim, onde os teus dedos
Não conseguem chegar.

Nessa urgência louca
Em que meu corpo clama poesia,
Em gestos prosaicos
Deformados pelo tempo
Sinto o vibrar da vida desconexa
E complexa na amplitude
Dos movimentos da minha boca
A declamar-te...poema!

Sou e serei sempre (eu)

(eu)

Beijo Imaginado



Neste entardecer lento
Algumas vezes tento erguer
Em minhas mãos
As rosas que a pouco e pouco 
Foste deixando sobre o meu ventre.

Outras vezes 
Sinto o recomeço imaginado
No sonho em que me detenho
De visceras laceradas,
Vomitando palavras incontidas
Pelo sentimento existente 
Nos interstícios das minhas células.

Sou (eu) sim!
Essa que parte sem partir
Essa que fica sem ficar
E espraia-se em marés de fogo
Com o sangue que lhe corre nas veias.
Sou (eu) sim!
Essa que ergue as rosas
E as beija com boca ardente!

(eu)

sábado, 2 de junho de 2012

Sentindo a Vida



Abro o templo
Alhures num sitio qualquer
Dentro do meu peito.

Orgão palpitante 
Ainda quente a dizer-se céu
Universo absorvente
De todo o húmus terrestre.

Esse que é vida 
Da própria vida
Remanescente dos despojos
Vividos e respirados
Inalados e sentidos
Em poesia viva
Nascendo dentro de mim
Do pó que meus pés
Absorveram.

(eu)